segunda-feira, 3 de maio de 2010

Entendimento necessáiro

O ser humano é uma das máquinas mais perfeitas do planeta, então por que lidamos com os fatos através de imagens formadas por nossa mente e percepção quando poderíamos lidar com os acontecimentos em sua totalidade?

Compreender o significado de uma imagem é muito mais fácil e simples do que analisar e entender toda uma cadeia de acontecimentos que levaram a um fato. Isso é ainda mais difícil quando vivemos no mundo de hoje, no qual recebemos informações sobre muitas coisas, por muitos meios e a uma velocidade cada vez maior. Por mais que o ser humano não use de sua capacidade, processar tantas informações iria requerer muito tempo, tornando a interpretação de uma imagem, algo muito mais viável.

No entanto, ao assumirmos que uma simples imagem é suficiente para ter conhecimento de algo, erramos. Tomando como exemplo o atentado de 11 de setembro de 2001, que matou milhares e destruiu um dos maiores símbolos econômicos da modernidade, foi um fato de grande impacto, do qual o mundo tomou conhecimento rapidamente, mas não soube como reagir ao que via. Tornar este fato uma simples imagem, seria ignorar uma infinidade de acontecimentos, criando uma completa alienação; e um mundo de pessoas alienadas pela simplificação de fatos tão complexos quanto este, não se sustentaria, portanto a realidade deve ser encarada.

Assim, considerando que lidamos com um fluxo de informações intenso e somos incapazes de compreender tudo, mas ao mesmo tempo não podemos ignorar fatos importantes que exigem a nossa atenção, é necessário que saibamos filtrar aquilo que recebemos; o importante, que nos afeta e pode exigir atitude deve ser compreendido na sua forma real e total; e o comum, de menor impacto ou até fútil pode ser visto apenas superficialmente, na forma de imagem, sem que nossa parcial ignorância se torne prejudicial.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Muitos que perfazem um

Multiplicidade, esta é uma das únicas palavras capazes de caracterizar metrópoles mundiais como São Paulo, formadas pelas mais diferentes pessoas, classes, culturas, paisagens e onde existe também um preconceito fundamentado na história, consequência dessa mistura tão grande e tão intensa

Processos migratórios e a própria estruturação da sociedade capitalista criaram um abismo que separa ricos e pobres dentro de um ambiente urbano comum. Esse abismo, inicialmente econômico, com o tempo tornou-se também cultural, criando um desprezo mútuo pelo outro.

O pobre tratado como "sujo, burro, inútil" e o rico como "fútil, arrogante, autoritário"; isso é o retrato desse preconceito que observamos claramente em nosso cotidiano. Tal retrato existe apenas devido à falta de compreensão da cidade como uma só, palco de interdependências, onde o rico gera empregos para os pobres, e estes, trabalhando como pedreiros, peões de fábricas, garis, mantém a cidade funcionando, em um constante e diverso crescimento.

Ao observarmos as pessoas em suas classes vemos que os ricos são como um motor e os pobres como o combustível dele; ambos existem separadamente, mas só são capazes de realizar algo se juntos, em colaboração mútua. Entretanto, essa visão não existe na mentalidade de muitos, e para isso mudar, a conscientização de que nós, enquanto seres humanos, dependemos uns dos outros para existir e nos manter, é necessária. A cidade, assim, depende da multiplicidade, não só de pessoas, mas de tudo, para ser o que é: um mecanismo único de relações interdependentes.

Dualidade necessária

Verdade e mentira. Em ambos os casos, a questão, é de ponto de vista. A verdade de um pode ser a mentira do outro. Assim, contamos uma ou outra de acordo com o que é mais conveniente aos nossos propósitos. De certa forma, dizemos sempre a verdade, a nossa verdade.

A “nossa verdade” pode facilmente ser uma mentira, mas isso não pode ser considerado falha de caráter ou qualquer coisa parecida. Antes de tudo, o ser humano é um animal, e como tal, busca a sobrevivência, fazendo da mentira uma forma de auto-preservação; dizer para a namorada que ela está linda, mesmo estando horrível, as promessas dos políticos, a criança dizendo que o cachorro comeu a lição de casa são claros exemplos disso.

Já a verdade pura, ou melhor dizendo, o fato, é também é muito interessante, mas raramente importante para quem a conta, uma vez que a reação à ela é imprevisível. É claro que isso não muda o fato de que gostaríamos de ouvir a verdade dos políticos no que diz respeito ao dinheiro público, dos nossos filhos caso façam algo errado e da nossa namorada se ela discorda de nossas atitudes. Queremos ouvir, mesmo que sejam um “tiro no escuro” para quem as conta.

Em suma, dependemos principalmente do nosso discernimento para falar a verdade ou contar uma mentira, já que ambas podem ser desagradáveis, tanto para quem as conta quanto para o ouvinte. O equilíbrio é necessário aqui, assim como em todas as coisas, um mundo em qualquer um dos extremos seria insuportável, pois, ou seríamos totalmente enganados, ou o choque de realidade nos desacreditaria permanentemente. Se nossa mente é a balança, devemos ter cuidado ao pesar cada atitude, seja ela verdadeira ou mentirosa; ambas existem e são necessárias.

A Luva

Descrição - Luva

Evidência código 22-N, prova de um crime de assassinato, corte no indicador, sem sangue presente indica que pode haver mais pistas; o leve tom de ferrugem na ponta do dedo médio revela o uso de alguma de espécie de objeto metálico com algum tempo de uso; mancha de caneta no polegar indica que o manuseio da mesma não foi cuidadoso; a ausência de talco por dentro indica uma mão suada, mas o tempo eliminou os traços de DNA.

A Luva

Décimo assassinato em 3 meses, todos com a mesma assinatura: uma nota de despedida escrita pelo assassino e assinada pela vítima; sem digitais sem armas presentes, o crime perfeito. Tentamos omitir o caso, mas as informações chegaram à mídia e o caos foi instaurado. A incomum crueldade e a ineficiência da polícia, mesmo da forense, fizeram muitas pessoas adquirirem armas ilegalmente para se defender.

Imaginei que como detetive responsável, me tornaria famoso com a captura do assassino; ledo engano, cada vez mais duvidavam da minha capacidade e eu me tornava mais e mais recluso, investigando sem pausa.

A frequência dos assassinatos aumentava, agora já eram passados 4 meses e 16 assassinatos, mas no último havia uma pista, a minha última esperança: uma luva de borracha cortada e com algumas manchas.

Começou a corrida contra o tempo, não havia traços de DNA e nem de sangue na luva, apenas marcas de ferrugem e de tinta de caneta, a mesma usada na mensagem do assassino, a caligrafia me parecia familiar.

As lesões no corpo da vítima revelaram uma luta, algumas louças quebradas mostraram que houve uma perseguição. Enquanto continuávamos a investigação, meu corpo doía, sei que desmaiei e bati a cabeça, acordei depois de um mês em coma e fui levado para interrogatório, mas nada daquilo fazia sentido.

Foi quando acordei para o meu pior pesadelo, quando entrei em coma os crimes pararam, mas a investigação seguiu e identificou o culpado: eu. Se antes me sentia perdido, agora sentia como se o chão desaparecesse.

Transtorno bipolar, foi isso que me disseram na internação, onde também me foi revelado como descobriram tudo: manchas de tinta no meu dedo; aparentemente a vítima se rebelou quando foi assinar a despedida e me atacou com a caneta, rasgando a luva mas, já fraca, sucumbiu a minha faca, a qual foi encontrada na garagem da minha casa.

Aos poucos no hospital meu lado humano se foi, permaneceu o assassino que apenas pensava: “maldita luva”.